Diário do Grande ABC - Visões de poesia

Diário do Grande ABC
28/06/2007 - 07h07

Visões de poesia
  Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC


Ainda que o medo de fato não exista, são visões do medo que surgem diante dos olhos de Beth Brait Alvim. Esses medos e temas como o tempo, a mulher, a maternidade e as desigualdades sociais permeiam a poesia contida em Visões do Medo,(Escrituras, 80 págs., R$ 18), livro de poesias da escritora, cujo lançamento ocorre nesta sexta-feira, a partir das 18h30, na Livraria Cultura de São Paulo. O livro foi premiado pelo PAC (Programa de Ação Cultural) da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
Há tempos a poesia habita o coração, os pensamentos e os papéis de Beth, que é coordenadora da Casa da Palavra de Santo André. “Aos 13 anos eu costumava ficar no portão de casa, refletindo: todo ser é criador”, diz Beth, que tem nos insights e em inspiradas percepções da realidade a sua fonte poética criadora.
Suas primeiras produções no campo da poesia surgiram em 1987, quando tomou contato com a disciplina Antropologia do Imaginário em uma pós-graduação na USP. “O meu mestre disse que eu teria de analisar meus mitos pessoais e minhas metáforas obsessivas. Eu falei; o quê?”, lembra-se Beth. Esse embate interior acabou gerando o livro Mitos e Ritos (1987) e textos em Mulheres de São José, entre outros trabalhos.
Visões do Medo traz, em sua maioria, poesias criadas no ano passado e marcadas por um período difícil, quando ela cuidou de sua mãe doente. Daí os temas mulher e maternidade tão presentes. Naqueles momentos, teve as visões do medo, do inferno e do baldio, todas elas vertidas em poesia agora publicadas. Lembrando Octavio Paz, diz que “a poesia traz aquilo que está corroendo”. E assim foi. Não por acaso, o tempo aparece entremeado às idéias. Sobretudo o tempo linear e opressor, calcado na idéia do futuro como o grande motor na vida de qualquer pessoa.
Queira ou não, a “outra voz” da poeta questiona o papel social da mulher, confronta valores, revela o ser humano por trás das vestes maltrapilhas. Beth Brait não tem a intenção de fazer poesia engajada. Acredita que nesses tempos pós-modernos as transformações acontecem no plano individual. Mas crê que, por sua própria natureza, a poesia transgride. “Ela não dialoga com o capital, com padrões, com pressupostos fechados”.
Paradoxalmente, o título Visões do Medo surge da ausência de medo de Beth em sua vida. “Aos 20 anos, em uma ação do Comando de Caça aos Comunistas, levei um tiro e fiquei com um projétil na sétima cervical. Foi um milagre ter sobrevivido. Passei muito tempo com medo de ir à faculdade, de andar sozinha, e não podia nem ouvir bombinha de São João. Em 1984, aboli todos os preconceitos e medos”. Para Beth, mesmo que a pessoa não sinta medo diante de “tanta coisa indescritível que vê por segundo”, são as ‘caras’ do medo que se apresentam a todo instante diante de nossos olhos. Hoje, ela garante: “Não tenho mais medo de nada”. Ficam as visões. E a poesia.
Visões do Medo – Lançamento do livro de Beth Brait Alvim – Nesta sexta-feira (29), às 18h30. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional – av. Paulista, 2.073. Tel.: 3170-4033. Entrada franca.
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