Um sábado com Brecht

MAU TEMPO PARA A POESIA


Sim, eu sei: só o homem feliz

É querido. Sua voz

É ouvida com prazer. Seu rosto é belo.


A árvore aleijada no quintal

Indica o solo pobre, mas

Os passantes a maltratam por ser um aleijão

E estão certos.


Os barcos verdes e as velas alegres da baía

Eu não enxergo. De tudo

Vejo apenas a rede partida dos pescadores.

Por que falo apenas

Da camponesa de quarenta anos que anda curvada?

Os seios das meninas

São quentes como sempre.


Em minha canção uma rima

Me pareceria quase uma insolência.


Em mim lutam

O entusiasmo pela macieira que floresce

E o horror pelos discursos do pintor.

Mas apenas o segundo

Me conduz à escrivaninha.


(Brecht; poemas - 1913-1956. Trad. Paulo Cesar Souza. Brasiliense, 1986. p. 229.)

Comentários

Esse filho da mãe fala coisas que nunca sairiam da minha pena!

Talvez por isso seja tão fantástico!

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