poesia interdita ou saudades de mim.






Faz tempo que não me visito.
Ando sem fome. Acho que me alimento de um desejo, faz quase 15 dias: escrever sobre a Quinta Poética da Casa das Rosas do dia 25 de junho, que a Escrituras Ed. promove. Tive o empenho de ser uma vez mais a poeta anfitriã, convidada pelo Raimundo Gadelha, poeta e editor, e pela Carmen Barreto, assessora de imprensa, competente e apaixonada, o marketing da Escrituras.

O marketing de uma editora é a decisão política de uma editora. Tento perturbar o Gadelha sempre, clamando e louvando (por) uma editora para/dos poetas. Sim, existem, excelentes. Mas, é bem como eu dizia ao querido Pedro Tostes na noite passada ou nesta madrugada, não sei, na Rio Santos, quando deixamos as cicatrizes da FLIP para os moradores de Paraty: poesia não vende, claro, poesia não se põe à venda, ela não se enquadra e não se enquadrará jamais como produto a ser consumido.

Eu disse cicatrizes? É, saímos de Paraty quando já eram notáveis as cicatrizes. Ainda me emociono muito com a FLIP, como no primeiro ano, por ser onde é, mas me emociono mesmo com a OFF FLIP e com os amigos resistentes que por lá cruzamos todos os anos. Com a FLIP, tão grande, tão poderosa, também me emociono, apesar de com ela não ter visto a cidade. Sim, porque antes o livro virar fetiche do que não virar, porque antes escritor ser pop star, como disse o Alan Pauls, do que...

Eu me emociono, porque conheci Paraty em 1975 (logo após meu telefone foi grampeado)-amontoados no fuscão do Thomas, o alemão, o pai dos meus filhos, pulando e bebendo com os olhos e com o coração os pés de moleque da estrada Cunha -Paraty. Eu, que convivi com Zé Kleber -poesia e música-, e que hoje é memória lírica da cidade e um nome de mesa na FLIP. Eu que vi a Gabriela ( é, a do filme, a do livro do Amado) dançando descalça no Como Antigamente, nos tempos em que ainda não existia a Rio Santos, no tempo em que o cartaz do Dama do Lotação com ela, linda, era patrimônio da parede em frente ao WC do Coupé ...).Eu me emociono porque em cada rua e em cada esquina e conforme a luz mais ou menos difusa-ah, tinha um bar com esse nome, não é insinuante? Luz Difusa....- me vem forte uma imagem com uma estória pra contar. Hoje acho todas ousadas. Quando as conto para jovens como o Pedro ou como o Jimmy, o Brandon, de Diadema, deus meu, acho mesmo ousadas e fortes e belas e merecedores de memória. Vanguardas de fato eram as atitudes e seus desejos: nenhum medo, nenhum recuo.
Deuses, como hoje ainda a força é bruta. E como. E como estamos conservadores, Paraty. Já mando uma contestação. Não dá mais.
(O time da Lan aqui de Massaguaçu vai expirar. Eu, idem.) Não dá saber que caçam a poesia, ainda. Como foi esta vez, na FLIP. Apreenderam material poético do Tostes.

Ainda teimam em 'apreender' poesia.
Apreendem-na das ruas, seu lugar de voz, de direito, de história.

Amigos queridos:
Ovídio, lutador e curador literário da OFF FLIP.
Tostes, Caco e Berimba dos Maloqueiristas, povo de San Jose dos Renitentes, Josie, Joca ...
Edu Planchez, do Blake Rimbaud, salve, meu irmão!


Hatoum, que eu tanto quis abraçar...

Não dá. Vou ler o JB porque teve entrevista. Prenderam a poesia. Não dá. Já era. Já envelheci demais pra ver de novo isto.

Outro dia falo da maravilha do pessoal da Quinta Poética. Marcelo, Celso de Alencar, Vanessa Lambert,Bittar,Neres,Gadelha, Carmen, Santo André, e todos, todos, baita clima, e meu filho, minha nora e Lara Beatriz, minha neta, que virá pra mim em setembro, será que no mesmo dia que eu???

inté.

Comentários

Tenho um dívida de sangue com Paraty. Há um mistério entranho envolvendo aquela cidade. Foi bebendo em um bar em Paraty que fiz quarenta anos, e descobri o verdadeiro significado de nascer de novo.

Faltou falar de nós bebendo vinho nos jardins da Casa das Rosas, para o inferno dos seguranças desconcertados.

A tirania sempre se manifesta no micro-cosmo, na pequena autoridade, no pequeno poder, no ódio reprimido, porque senão ela não poderia assumir uma condição de macro.
Beth Brait Alvim disse…
porra, amigo, vc tá bom, hein?

bjão
Beth Brait Alvim disse…
puxa, meu amigo, saudades de ti e de Paraty.Gosto tanto de te ler!

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