São Paulo


São Paulo I

a noite explode a cidade
:
espectros sem fim nos corredores vazios das telas de Portinari
dialetos e maldições de todos os submundos
e todas as línguas na ferrugem dos metrôs e dos trilhos
todos
parecem cansados

a moça ainda bem moça vira os olhos para os semi faróis
que a derretem
- sexo não importa como
unhas retas e tortas longas e roídas no alto do cinza
arranham luares e vidraças em busca do azul sob o cinza

a febre que resta do dia salta do edifício mais alto
e lambe o ventre de crianças no lixo
enquanto um violeiro esbraveja como um mouro alado
como se fosse mentira
como se fosse verdade

o néon falsifica notas bentas por becos ou igrejas
uma santa resvala a sarjeta e mija no meio fio
outra
esparramada de tédio
lambe o dorso da estátua negra do Trianon

todas as matrizes e todas as etnias
todas as luzes todas as maravilhas da noite na cidade
babam o bafo dos albergues engarrafados
nos corpos no canto dos olhos na cantilena dos meninos
e seus sacos de plástico

a programação clean dos grandes centros culturais
as filas solitárias à espreita do talvez
a palidez nas vitrines
- sexo não importa como
o cansaço

o cansaço de são paulo

só está em nós
só está em nós
só está em nós


beth brait alvim, 24/01/2005

Comentários

Leticia Brito disse…
Posso até mesmo me imaginar andando pela Avenida Paulista. Como sempre magnifica sua poesia feita de pequenas verdades
guru martins disse…
!!!BOA, menina!!!

bj

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